quarta-feira, janeiro 31, 2007

A organizadora de casamentos

Carla, de corpo esguio e magro, é uma daquelas pessoas que não se sentem bem em sua pele. Em vez de se favorecer do biotipo, ela se confunde e se desengonça, perdendo-se entre pernas e braços tão compridos.
Os ohos fundos e os cabelos ralos em desalinho denunciam o desespero que essa organizadora de casamentos carrega. Conclui-se, logo: ela não dá para a coisa.
De tão confusa que é, escreve pequenas notas para não esquecer de que a noiva moderna é moderna, de que a tradicional é tradicional e de que a romântica é romântica e não quer lírios brancos. Com pequenos pedaços de durex, forra as paredes de sua sala, o fichário e a agenda, para "não cometer gafes", diz, "que são coisas muito feias de se cometer".
Ela fala baixo e pausadamente, quase como se as palavras se afastassem e compusessem frases lá na frente, quando todos já estão empacientes e entediados. A risada é um caso à parte. Ela ri em prestações, sem que ninguém espere e sem motivo aparente. Fala-se em flores e logo vem um rá... Menciona-se velas, outro rá... Um bem casado, mais um rá... Assusta.
Carla me dá um pouco de pena. Ela não dá para a coisa. Mas, pena mesmo eu tenho das noivas. As noivas - esses seres que só pensam em musseline, orçamentos, rosas colombianas, provas de vestido e bolos gigantescos - estão sempre à beira de um ataque de nervos. Elas têm pesadelos em que chegam atrasadas na igreja, em que não querem mais se casar, em que os noivos as abandonam. Vivem pilhadas, nervosas, ansiosas. Imagine, então, o que causam as gafes de Carla. Ela já perguntou para uma noiva flicto, dessas que casam ao som de Flaming Lips, quando entraria em contato com o coral. Propôs para outra a entrada de uma escola de samba em pleno casamento (fico imaginando a noiva de vestido longo, branco, e as mulatas semi-nuas sambando freneticamente ao lado). Carla se confunde com o cronograma, esquece-se dos contratos já fechados, atrasa-se para a reunião, atrapalha-se toda e pergunta a mesma coisa um milhão de vezes. Ela não dá para a coisa. E, quando vê que errou, sorri sem jeito e pede desculpas va-ga-ro-sa-men-te...