segunda-feira, setembro 03, 2007

Um ano

Hoje faz exatamente um ano que o Fernando e eu decidimos oficializar a nossa vida a dois e comemorar isso com um casamento grego – ou espanhol, japonês, italiano...

Bem, não foi fácil. Organizar uma festa para tanta gente é trabalhoso e estressante. Há muitos detalhes para serem vistos, sem mencionar a façanha que foi encontrar um apartamento, comprar, reformar, ver os móveis e etc.

Agora, a casinha está pronta e já estamos guardando o enxoval e os presentes do chá-bar. Estamos fortes e animados com a contagem regressiva – faltam 19 dias! E, a cada dia, nos deliciamos com os presentes que chegam e com as pessoas que confirmam presença – bem, com os convidados a mais nem tanto...

Esta tem sido a melhor fase. Na verdade, muitas coisas ruins aconteceram nos últimos tempos, mas isso só serviu para que eu percebesse o quanto quero mesmo ficar com esse homem tão maravilhoso, paciente e maduro que é o Fernando. E mais, tenho a certeza de que enfrentaremos muitas coisas, mas que vamos continuar juntos, amigos e cúmplices, compartilhando as coisas boas e ruins.

Quero apenas agradecer, aqui, pela paciência infindável do meu noivo e por ser o melhor companheiro que eu poderia ter. Fê, logo vamos estar nos esbaldando em tiramisu e vinhos chianti!!! Falta pouco!!!

terça-feira, junho 26, 2007

Noivo Neurótico, Noiva Nervosa – e o vestido

Eu não vou falar do filme. Não desse. Mas a história é que por acaso, eu, Noivo Nipônico, dei uma de Noiva Neurótica ao encontrar no Digg um link sobre vestidos feios em casamento, que é relativamente útil, tem até umas sugestões para madrinhas! Já que eu não posso ver o vestido da minha amada, pelo menos me divirto com a noiva dos outros, no bom sentido, claro.

Mas o verdadeiro problema é que o link era da revista People, vejam só que coisa fina. Fizeram uma página para a edição especial de casamentos. Tem uma matéria com histórias reais (e românticas, segundo a publicação) de pedidos de noivado. A neurótica da minha noiva, já disse que o meu pedido não foi grande coisa. Talvez se eu tivesse me vestido de ursinho Pooh seria melhor... No fim das contas tem coisas interessantes, como esse vídeo, que me inspira a levar a idéia de alguns padrinhos adiante. Vamos precisar de muito ensaio...




quinta-feira, junho 14, 2007

Era uma casa muito engraçada

Nosso pedaço de Saigon já esta comprado! Na verdade, já está faz tempo, mas agora temos até umas fotinhas da pintura, ou melhor, da amostra de cor na parede. A cor, por sinal foi escolhida pela Noiva Nipônica, digo Neurótica, que não ia dar palpites na "obra". Para quem ainda não conhece, uma amostra. Para quem já conhece, um plus.

Esta é a parede da sala:



Este, o ninho de amor, repare na cor nova e no pedacinho de pintor no canto:



Este é o "Zé" passando massa corrida no escritório, que vai ter a mesma cor da sala:



E esta é a bagunça na cozinha, que ainda faltam armários:


Depois faltam os novos rodapés, clarear o piso de taco, fazer os armários da cozinha e dos quartos, arrumar as portas e colocar uma na cozinha, fazer a bancada do escritório e o espelho do banheiro...
Aos poucos vou colocando as fotos por aqui.

domingo, junho 03, 2007

Notícias do front


Seguimos a todo vapor nessa reta final dos preparativos para o casamento.
Na última semana, fizemos a tão sonhada degustação de docinhos! Entre a centena de maravilhas de chocolate, damasco, limão, uva, morango, pistache, ovos e etc. tivemos de escolher os que nos agradavam visualmente, ficando com mais ou menos trinta unidades. Esses - que chato! - tivemos de provar e selecionar os melhores.
No entanto, o que era um sonho se tornou um pesadelo! Estava louca para comer tudo, mas depois quase passei mal. Nunca pensei que açúcar fosse me enjoar... Imaginem o noivo, então, que não é fã do gênero!
Mas, enfim, escolhemos muito bem! Vocês vão morrer de azia!

A outra boa notícia é que demos início à reforma da casa nova! Já escolhemos as cores com as quais vamos pintar o apartamento e o design dos armários! Maravilha! Fiquei menos ansiosa depois disso...

É engraçado: nunca pensei que ficaria tão nervosa, mas com tudo o que temos passado cresce cada vez mais a vontade de ser a esposa do Fernando! Espero que ele continue paciente...

segunda-feira, maio 28, 2007

ATENÇÃO: ESSE POST CONTÉM SPOILER

Em primeiríssima mão: a alça do meu vestido de noiva!!! Aguardem maiores detalhes em setembro.

Andamos atarefadíssimos. Além da reta final de preparativos para a festança, tem o apartamento, e parece que com a chegada do casamento estão todos nervosos, exigindo mais a nossa atenção e presença.

Também estou muito emotiva e ansiosa. Ainda bem que a minha mãe me lembrou recentemente do mais importante: não esquecer do objetivo disso tudo, que é casar com o homem que eu amo.

Sou grata, ainda, por ter o Dr. Z com a sua homeopatia mágica, um noivo paciente, uma mãe com saco elástico e uma nova assessora de casamento!!! Ela caiu de pára-quedas, falando rápido, afim de decidir tudo para ontem, com muita disposição e animação, do jeito que eu gosto!

Agora falta pouco: docinhos, bolo, arranjo para o cabelo e buquê! Logo será o dia!

terça-feira, maio 22, 2007

O dia em que eu fui no Casar

Na semana passada, dei-me conta de que falta a este blog um tom mais jornalístico, de reportagem. Assim, eu – uma mulher que anda a maior parte do tempo sobre um par gasto de all-star vermelho, que usa os cabelos soltos desgrenhados e que poucas vezes rende-se ao salto alto e à maquiagem – decidi me aventurar no Casar, a feira de casamento mais chique do Brasil, promovida pela assessora Vera Simão. Local? Nada mais, nada menos que o Terraço Daslu. Não me intimidei. Peguei a minha bolsa surrada, o meu bilhete único e embarquei em um busão que pudesse me levar ao lugar.

Chegando lá, minha genitora, de tailler branco, esperava-me na porta. Entrei na fila, comprei o ingresso de 30 reais e passei pelos seguranças (?). Na entrada, mulheres altas, esbeltas e de chapinha no cabelo, com bolsas Louis Vitton a tiracolo, confundiam-se para colocar as pulseirinhas colantes que permitiam a entrada e, desesperadas, pediam auxílio às funcionárias do local – devidamente trajadas com uniformes de empregada doméstica de novela das oito.

O elevador nos levou ao primeiro piso, em que já encontramos os estandes. É inegável: tudo era muito bonito. Os estandes de doces e dos buffets traziam cenários bem decorados, como pequenos pedaços de uma linda festa de casamento; os fotógrafos mostravam fotos emocionantes e álbuns maravilhosos; estilistas refinados expunham vestidos de noiva chiquérrimos, sem falar nos sapatos, acessórios para cabelo, buquês, brincos, alianças e tudo o mais.

As atendentes eram todas muito simpáticas e distribuíam doces, macarrons e bem-casados – desde que você fizesse o cadastro. Experimentei um doce de brigadeiro que vinha dentro de uma caixinha de chocolate com crocante de caramelo, da La vie en douce – uma maravilha. Comi também macarrons (aquele doce que parece um biscoitinho) de brigadeiro, de chocolate e de banana.

Mas, como não só de doces vive uma noiva, experimentei uma série de aparatos para o cabelo e – surpresa – fiquei estonteante com todos, até com aqueles mais bregas, estilo princesas da Disney.
Também aproveitei para me informar sobre as listas de presentes, que algumas das lojas representadas ali ofereciam. Vi ainda lindas lembrancinhas – noivinhos de chocolate em caixinhas de vidro, noivinhos de porcelana, bombons em embalagens bonitas; tudo para levar uma mulher à loucura!

E, enquanto passeava pela exposição, começou o desfile de noivas. Um segurança forte ia na frente, precedido por uma moça baixinha e morena, que tocava flauta doce. Atrás dela, longilíneas modelos trajando vestidos de noiva caminhavam lentamente, com cabelos penteados e maquiadas, carregando buquês e terços de cristal – última moda no universo do casamento, que não vou aderir, uma vez que não vou me casar na igreja.
O desfile percorreu todos os corredores da feira, entediando um pouco quem estava ali, já que, por mais que você fugisse, sempre reencontrava as magrelas noivinhas com as mesmas roupas, deslizando ao som da mesma canção de flauta doce. Engraçado era o negão que puxava a fila, afastando as peruas para que deixassem o caminho livre. Por incrível que pareça, ele não perdia o bom humor e fazia piadas, pedindo para que não olhassem para ele já que não fazia parte do desfile.

No final das contas, achei que valeu a pena ter ido – mas não valeu a pena ter gasto 30 reais. Vi algumas coisas interessantes e deu para ter idéias com relação ao que eu ainda não tinha escolhido, como os acessórios de cabelo. Além disso, tenho de aproveitar que estou em um “ano noiva” para “cometer” esse tipo de mico.

quinta-feira, maio 17, 2007

Feliz aniversário, Martchú!

Eu adoro fazer compras online. Você vai, escolhe o produto, não tem que trocar uma mísera palavra com um vendedor imbecil que normalmente entende menos daquilo do que você, parcela em até 12x no cartão, frete grátis, bônus de 20 reais e brindes! Meu George Foreman veio com o fogão. O fogão não é lá essas coisas, não tem luz no forno e nem cigarrinha, que a Martha tanto sente falta, sei lá por que. Mas o George está lá, firme e forte. Até banho já tomou, sempre respinga uma agüinha naquela pia minúscula. Confesso que comprei um George Foreman que veio com um fogãozinho junto.
Depois do café da manhã na cama e do presentinho, as flores chegaram. Na hora que eu queria, mas sem querer, já que podia ser a qualquer hora do dia. Outra coisa sem querer foi o que aconteceu com as flores, graças à compra online. Segue o diálogo de gtalk, sem delongas. Aliás, com uma sim. Vale a pena conferir o link que aparece no meio do diálogo, não tem nada a ver com a história mas enfim…

Martha - 11:37
xuquis, te amo muito, você se superou... sério, não consigo imaginar mais surtpresas e coisas românticas!!! e eu amei a correntinha!!! de svarovski q a gente falou ontem!!! muito legal, eu amei!!! vc me faz muito feliz!

Makitosh - 11:38
que correntinha?

Martha - 11:38
q veio junto...

Makitosh - 11:38
nossa, nem sabia...

Martha - 11:38
sério???

Makitosh - 11:39
sério. foi na cagada essa. escolhi pelas rosas colombianas.
na descricao nao falava de correntinha

Martha - 11:40
hahahahahahahah... bocó... veio uma correntinha com um pingente de svarovzki.
agora vc perdeu parte do crédito...

Makitosh - 11:40
po, na descrição não fala nada!!!

Martha - 11:41
q louco...

Makitosh - 11:42
será que foi por engano?? é uma duzia de colombianas num vaso de porcelana, branco?
é um pendulozinho?

Makitosh - 11:51
http://www.paraibaonline.com.br/noticia.php?id=259410

Martha - 11:51
é isso mesmo..
meu, to me sentindomal... será q alguém vaificar sem o presentinho?

Makitosh - 11:52
sei la. eu to me sentido um pouco mal porque falei que nao tinha escolhido.
ve o site que eu mandei

Martha - 11:54
pq?

Makitosh - 11:55
pq o q?

Martha - 11:55
ta se sentindo mal

Makitosh - 11:56
porque devia ter mentido...

Martha - 11:57
hahahahah... vc foi bocó...

Makitosh - 11:59
honesto
sempre
hahhahhhahahahahahaa

Martha - 12:00
o q importa é q eu ganhie maisum presente... e é tão lindinho!!! e amei o q vc escreveu no cartão...
vc me deu por sorte...



É, alguém vai receber o presente atrasado, outro alguém vai ter prejuízo e eu espero que um terceiro não perca o emprego. Acho que não. Hoje até o sol está brilhando por ela. E pra ela conseguir receber os parabéns de todo mundo, mesmo estando sem celular, o telefone da Summus é 3872-3322. Digite 141. E ela vai atender com aquela voz maravilhosa, de travesseiro: Martha?
E hoje ainda tem mais...
Tô com fome, mas vou guardar pra mais tarde.

quarta-feira, maio 16, 2007

É bregalhona, mas foda-se. Amanhã é o dia...

She
Charles Aznavour

She may be the first I can't forget,
A trace of pleasure or regret,
May be my treasure or
The price I have to pay.

She may be the song that summer sings,
May be the chill that autumn brings,
May be a hundred different things
Within the measure of a day.

She may be the beauty or the beast,
May be the famine or the feast,
May turn each day into a
Heaven or a hell.

She may be the mirror of my dream,
A smile reflected in a stream,
She may not be what she may seem
Inside her shell.

She who always seems so happy in a crowd,
Whose eyes can be so private and so proud,
No one's allowed to see them
When they cry.

She may be the love that cannot hope to last,
May come to me from shadows of the past,
That I'll remember till the day I die.

She may be the reason I survive,
The why and wherefore I'm alive,
The one I'll care for through the
Rough and ready years.

Me, I'll take her laughter and her tears
And make them all my souvenirs
For where she goes I've got to be.
The meaning of my life is she, she, she--.

quinta-feira, maio 10, 2007

Uma noite de quarta-feira na casa dos Makita

- 1 garrafa de vinho Costa Silva (gentilmente cedida pelos amigos Ader, Fabiana, Renata, Luciana e Diego);

- 5 pratos de sopa de carne do chef (noiva 2, noivo 3) – Receita: caldo de carne assada, fatias de carne, pedaços de batata e cenoura, macarrão e sopa pronta de saquinho;

- DVD A primeira noite de um homem (The Graduate).

O desfecho da noite não divulgaremos nesse horário. Mas o que mais uma mulher pode querer?

sexta-feira, maio 04, 2007

domingo, abril 22, 2007

Difícil

Quem nos conhece bem sabe, namoramos há um ano e meio e moramos juntos há praticamente a mesma quantidade de tempo. O dia-a-dia nem sempre é fácil. Muitas vezes há de se fazer concessões, submeter-se a situações não tão agradáveis e ainda deixar que a rotina abata o melhor da paixão.

Não nego – tudo isso é irrisório perto do amor que temos um pelo outro, de tudo o que construímos, de nossos sonhos e planos. Mesmo em meio a problemas, brigas, picuinhas e chateações, damo-nos conta disso e irrelevamos os pontos negativos.

No entanto, parece que na distância tudo de maximiza e se solidifica. Estou longe do Fernando há dois dias e poucas horas. Não ficamos assim tão distantes há um ano, quando viajei por dez dias. A saudade é imensa, a falta é dolorosa e o amor parece preencher de tal forma o corpo que me faz sentir anestesiada, ausente de mim, quase como se eu não fosse eu mesma sem ele.

Comentava hoje que sempre temi me tornar uma dessas pessoas que perde a identidade quando ama. Sei, atualmente, que não é bem assim que o amor acontece. Amar, ao contrário do que muitos pensam, é extremamente simples. Tão simples que se enraiza, encorpora, vira parte de um todo. Amar, se precisasse fazer uma metáfora, está mais para assistir televisão que para pular de bungee jump. Quando é verdadeiro, não se coloca o objeto amado exteriormente ao corpo, mas dentro do coração. É piegas, eu sei. Mas nada é mais importante para mim hoje que esse magrelo nipônico que, com toda a sua inconveniência, apoderou-se de mim de tal forma que tornou impossível passar um par de dias sem ele.

É surreal. É tanto amor em mim que eu só posso querer que as horas passem logo para ficarmos juntos pelo resto das nossas vidas, sem nem uma horinha distantes. Hoje sei que eu nada posso contra o que a vida nos impôs, ou nos presenteou.

Te amo e isso basta. E, sei lá, são 3 horas da manhã e essa é só a minha opinião.

terça-feira, abril 17, 2007

Modern Love: Uma moça chamada Amor

Deborah Copaken Kogan
The New York Times

Em uma noite fria de domingo em fevereiro último, logo após eu ter colocado o bebê na cama, o interfone tocou.

"Você encomendou comida?", perguntei ao meu marido, Paul, que estava debruçado sobre o seu computador na nossa sala de jantar.

"Não".

Eu olhei para os nossos filhos mais velhos, Jacob, 11, e Sasha, 9; nenhum deles estava esperando ninguém.

"Provavelmente ligaram para o apartamento errado", disse eu. O interfone tocou novamente, desta vez por mais tempo. Fui até a cozinha e apertei o botão. "Alô!".

Uma voz - estridente e masculina - perguntou: "Vocês estão no 15º andar?".

"Sim".

"Algumas das suas janelas estão voltadas para o leste?".

"Por que você quer saber?".

"Sei que isso vai parecer estranho, mas...". O nome dele era Andrew, disse o homem, e ele era estudante de design. Ele tinha uma namorada que morava no prédio defronte ao nosso, também em um andar alto. Ela era japonesa, mas o seu nome foi formado com o uso de caracter para "amor", que tem o mesmo som em japonês. Ou pelo menos foi isso o que ele disse. "Construí em neon esse caracter em chinês que significa amor e gostaria de colocá-lo na janela de vocês na noite de terça-feira", explicou ele. "Assim, quando ela acordar no Dia dos Namorados, verá o caracter".

A sua história parecia muito elaborada para ser falsa. Se ele realmente quisesse nos roubar, um simples "Flores!" teria sido o suficiente. Não que eu estivesse esperando flores, mas mesmo assim...

"Quem era?", perguntou Paul.

"Um cara que quer colocar um neon com a palavra amor na nossa janela".

"Como?".

"A namorada dele mora no prédio defronte ao nosso", disse eu. "O nome dela significa amor. Ou ela se chama Amor. Em chinês. Ou algo assim".

"Eu espero que você tenha dito não".

"Na verdade mandei-o subir".

"O que?"

"Até os meus filhos me olharam desconfiadamente".

"Não se preocupe", afirmei. "Vou observá-lo bem pelo olho mágico".

"Foi isso o que disse Sharon Tate".

"Ah, vamos lá! Onde está o seu romantismo?".

"E onde está o seu juízo?".

O que o meu marido disse fazia sentido. Mas eu sempre fui vulnerável aos grandes gestos românticos: o homem que contrata um piloto de avião para escrever uma declaração de amor no céu, ou que se ajoelha no meio de um estádio lotado. Tais atos recheiam as peças românticas mas são raros na vida real. A idéia de que algo desse tipo ocorresse no nosso apartamento - onde o maior gesto romântico feito ultimamente por mim ou meu marido consistia em deixar o outro pular a sua vez de lavar os pratos - era muito tentadora.

A campainha tocou. Não seria um exagero dizer que os pelos na parte posterior dos nossos pescoços se eriçaram. Fui até a porta, olhei pelo olho mágico. No corredor, distorcido pela lente grande angular, estava um homem de uns trinta anos, caucasiano, alto, de compleição média com cabelos louros embaraçados (pensei comigo que talvez mais tarde tivesse que passar essa descrição para a polícia).

Abri a porta.

"Oi", disse ele. "Muito obrigado".

"De nada". Ele parecia suficientemente inofensivo, mas eu entabulei uma conversa inócua na porta para ver se ele se mostrava agressivo. Depois disso, em uma demonstração de fé - não muito diferente daquela ocorrida quando, 17 anos antes, deixei o meu marido entrar em minha vida - convidei-o a entrar.

Ele foi até a janela da sala de jantar. "Perfeito", afirmou. "Aquele lá é o apartamento dela. Então, posso voltar na terça-feira à noite com o meu neon?".

Mais tarde, quando eu e Paul escovávamos os dentes, vi pelo espelho que ele me olhava de uma forma como não fazia há anos. Depois que cuspi na pia, perguntei: "O que há com você hoje?".

"Estava só lembrando da árvore que comprei para você".

Uma semana após ter conhecido Paul em Paris, onde morávamos, tive que viajar para Bucareste por cinco semanas para cobrir os fatos que se seguiram à revolução romena. Eu gostei dele, e devo ter mencionado algo como desejar uma planta para o meu apartamento, mas naquele ponto da minha vida eu tinha basicamente desistido de me apaixonar, assim como os romenos tinham desistido de serem capazes de falar livremente: um belo conceito, era evidente que outras pessoas no mundo poderiam fazer tal coisa, mas o desgosto e a Securitate eram muito ameaçadores.

A seguir Ceausescu foi fuzilado, a Cortina de Ferro caiu, e retornei de Bucareste para encontrar uma árvore enorme no meu apartamento. Uma coisa levou a outra, e aqui estávamos nós, 17 anos e três filhos depois, escovando os dentes.

Com a exceção do fato de a coisa toda ser mais complicada do que isso, como o amor sempre é. Houve aqueles incidentes no princípio, que quase mataram a flor do nosso romance ainda no botão; o período intermediário, quando pedaços de porcelana voavam como estilhaços de artilharia; e o momento presente, no qual as possibilidades de romance foram abafadas pela logística e as vicissitudes do destino (uma semana sozinhos novamente em Paris? Claro! Mas quem tomará conta das crianças e quem morrerá de fome para que possamos fazer essa viagem?).

Na noite anterior ao Dia dos Namorados, cheguei tarde a um apartamento que brilhava internamente com uma luz morna e rósea. Preenchendo a nossa janela, o caracter de Andrew parecia mais um coração humano, cercado daquele tipo de traços que os cartunistas usam para indicar movimento.

Paul estava sentado no seu local de sempre na nossa sala de jantar, curvado sobre o computador, mas quando eu entrei, o que geralmente faz com que ele emita um grunhido e acene rapidamente, o meu marido se voltou para mim e sorriu. "Não é bonito?", disse Paul. Ele se levantou da cadeira, aumentou o volume do iPod e na verdade me puxou em sua direção.

"Desde quando você ouve Sinatra?" perguntei.

"Espere um pouco", retrucou ele. "Você também vai gostar". A seguir ele entrou dançando comigo no nosso quarto.

Por volta de três da manhã, o bebê começou a choramingar no berço.
Levantei-me da cama e coloquei a mão na sua testa. "Ah, não. Leo está quente".

Paul se ofereceu para pegar um pouco de água fria, mas sentindo-me incomumente generosa, disse a ele que eu mesmo traria a água. Levei Leo até o corredor rumo àquele surpreendente brilho rosa.

Quando viu o neon, ele exclamou, "Uff", que na língua dos bebês significa um grande elogio, e se acalmou instantaneamente. Leo não foi exatamente planejado, e às vezes acho a tarefa de cuidar dele, 11 e nove anos, respectivamente, após os dois irmãos, exaustiva. Mas naquela noite olhei para as bochechas brilhantes e pensei: "Meu Deus, como eu adoro este bebê lindo!".

Depois disso levei-o até a cozinha e percebi que ele não estava de fato brilhando devido ao neon, mas sim por causa de uma irritação na pele de aparência assustadora. No dia seguinte o diagnóstico seria eritema infeccioso, mas naquela noite, acalentei-o até que ele dormisse sob o brilho da luz do amor, e ele não nos deu trabalho até de manhã.

Quando o dia nasceu, fui até a sala de jantar ainda rósea para dar a papinha a Leo. Olhei para fora, vendo os flocos de neve que caíam, e observando o prédio da moça chamada Amor. Será que ela já acordara? Será que já vira o neon na noite anterior, ou Andrew descobrira uma maneira inteligente de fazem com que ela não olhasse pela janela até o dia raiar?

Enquanto dava uma colherada de mingau de aveia a Leo, imaginei os dois caminhando e observando o neon. "Ah, meu Deus", diria a moça chamada Amor.

"Não acredito que você fez isso".

"Eu te amo", diria ele. E a resposta sincera seria. "Eu também te amo".

Sim, ela tinha que trabalhar e ir à escola, mas não havia crianças precisando de colheradas de mingau de aveia, ou shorts de academia para serem lavados, nem merendeiras cheias. Imaginei a pele jovem dos dois, isenta de estrias ou rugas, os dedos e as coxas entrelaçados.

"A noite passada foi muito boa", disse Paul, beijando-me na testa.

Jacob e Sasha entraram na sala, gritando, "Uau! e "Legal!', quando viram o neon. Momentos depois, Sasha disse: "Jacob, você fez uns cartões tão bonitos para o Dia dos Namorados. As suas amigas adorarão".

"Obrigado", respondeu ele.

Será que a minha família fora substituída por alienígenas? Leo, vitimado pelo eritema e pela febre, arrulhava e comia o mingau morno. Os meus filhos mais velhos trocavam gentilezas. O meu marido me beijou na testa. Era como se, por meio do episódio amoroso que cruzara o nosso caminho, eu e Paul estivéssemos colhendo os benefícios de um caso extraconjugal - um aumento do ardor, uma distração da realidade, um novo despertar para o significado de estar vivo - mas sem a sensação de culpa e as mentiras.

Há muito relegáramos o dia dos namorados à prateleira empoeirada do ridículo, mas naquela noite Paul chegou com rosas e vinho. Acendemos velas e abandonamos as telas, os amigos e as responsabilidades para nos reunirmos na sala para um lânguido jantar em família e várias rodadas de Boggle.

Colocamos as crianças para dormir cedo, e descobrimos pela segunda noite seguida uma forma de nos amarmos.

Quando Andrew apareceu, conforme o prometido, na sexta-feira pela manhã para desmontar o neon, esperamos que ele nos falasse do momento feliz que compartilhou com a moça chamada Amor. Mas enquanto tomávamos o café da manhã, ele fazia silenciosamente a sua tarefa. Finalmente, incapaz de aguentar o suspense, a minha filha disse: "Então, o que aconteceu? A sua namorada gostou do neon?".

"Não sei ao certo". Ele desconectou o neon da tomada e o brilho róseo desapareceu. "Ela não me disse nada".

"Como assim", indaguei. Como é que Amor poderia ter deixado de (no mínimo) reconhecer o seu caracter e todo o planejamento e reflexão que possibilitaram a realização do projeto?

"Bem", disse Andrew. "Reservei um lugar na churrascaria Roth's e a esperei por uma hora, mas ela nunca apareceu".

"Onde ela estava?". Imaginei a moça chamada Amor presa no trabalho ou em um vagão defeituoso no metrô. Ela possivelmente não daria um bolo em Andrew no Dia dos Namorados.

"Não sei. Ela simplesmente não apareceu".

"Mas ela viu o neon, certo?".

Leo começou a chorar, e uma grande linha de catarro descia pelo seu nariz. Quando fui pegar um lenço de papel, esbarrei em um copo de suco de laranja, espalhando suco na mesa e no chão.

"Acho que sim", disse Andrew dando de ombros, e naquele dar de ombros enxerguei a morte da esperança. Após enrolar o caracter novamente em plástico bolha e em papelão, ele murmurou. "Novamente, obrigado", e saiu pela porta.

O meu filho mais velho parecia a ponto de chorar. A minha filha sentou-se ao piano para tocar uma música triste. Leo ficou apoplético, esfregando o conteúdo dos seus olhos e nariz irritados pelas bochechas cobertas de eczemas, antes de vomitar na bandeja da sua cadeirinha de bebê, na qual eu descansava o braço. Meu marido entrou na cozinha, observou esse cenário magnífico, e começamos a discutir sobre quem iria lavar os pratos.

Pensei de novo na história de Andrew. Será que ele havia se iludido completamente, achando que a moça chamada Amor era sua? Ou ele seria apenas um espreitador, e nós o teríamos o ajudado a praticar assédio? Ou talvez Amor fosse apenas fruto da sua imaginação. Algo que nem mesmo o neon mais brilhante, mais róseo, mais realisticamente esculpido em formato de coração poderia retirar do reino da fantasia.

Era algo no qual pensar enquanto eu arrumava toda a bagunça.

Tradução: UOL

quarta-feira, abril 11, 2007

A Mulher Alfa

Simone de Beauvoir ficou ultrapassada. A nova geração de mulheres não precisa se tornar mulher, já nasce assim. Pelo menos é o que se diz por aí. Mas não está fácil encontrar a parceira do macho alfa, que emprestou o nome a esta nova mulher. E ao contrário do que se pensa, elas não estão com a vida ganha, nada será simples. Elas têm que manter o posto, o que pode ser bem mais difícil do que a conquista de tantas gerações. Mães e avós seriam testemunhas da derrocada feminina por culpa de algumas que insistem em contestar a própria existência, mulhers beta ou gama, adjetivo esse emprestado de Aldous Huxley e não de Darwin. Voltando à elas, talvez a própria Simone continue parâmetro para essas "novas" mulheres, desde que seja um misto entre a feminista e a amante de Nelson Algren.
Tudo isso, para dizer que encontrei a minha. E citando o próprio Algren, nunca poderei sentir por você menos que amor.

segunda-feira, abril 02, 2007

O noivo já pode casar!

Ontem, passeando no shopping, decidimos entrar em uma loja que vendia ternos (ou "costumes"). A intenção era ver como o Fernando ficaria com um terno de modelagem mais justa - última moda de acordo com a Veja, o que agradou imensamente o nipônico.

Enfim, só íamos provar, já que falta 5 meses para o casamento. Mas a calça e o paletó italianos cinza-escuros vestiram tão bem aquele corpinho esguio que não deu para resistir: o noivo comprou. E eu, boba que só, tive de me segurar para não abrir o bocão ao ver o Fernando tão lindo. Emocionou-me a idéia de que ele se tornaria o meu marido vestido daquele jeito, quase como se eu estivesse vendo o "vestido de noiva" do meu noivo - será que dá azar?

Enquanto isso, o rádio da loja tocava "Só tinha de ser com você". Não pude deixar de pensar em como sou sortuda de ter esse homem maravilhoso na minha vida, pelo qual eu me apaixono mais e mais a cada dia!

Só tinha de ser com você

É, só eu sei quanto amor eu guardei
Sem saber que era só pra você
É, só tinha que ser com você
Havia de ser pra você
Senão era mais uma dor
Senão não seria o amor
Aquele que a gente não vê
O amor que chegou para dar
O que ninguém deu pra você
O amor que chegou para dar
O que ninguém deu pra você
É, você que é feito de azul
Me deixa morar neste azul
Me deixa encontrar minha paz
Você que é bonito demais
Se ao menos pudesse saber
Que eu sempre fui só de você
Você sempre foi só de mim
Que eu sempre fui só de você
Você sempre foi só de mim

terça-feira, março 20, 2007

Vamos nos casar na lua crescente!

Descobri alguns fatos interessantes ligados à tradição do casamento. Eu — que sempre me julguei moderna o bastante para não casar — percebo que essa fase tem me amolecido e me enchido de romantismo, por isso tenho buscado a origem de alguns rituais.

Parece que não se sabe ao certo de onde veio a "lua-de-mel", mas suspeita-se que tenha surgido na Roma Antiga, em que era costume pingar gotas de mel na casa dos noivos, para que tivessem uma vida doce. Diz-se também que os germânicos podem ter dado origem à expressão, já que se casavam na lua nova e, na cerimônia, tomavam uma mistura de água e mel para ter boa sorte. Li também que os judeus acreditam que casar na lua crescente traz muita felicidade para o casal. Não resisti e fui atrás da lua que estará no céu no dia do nosso casamento... o resultado: vem mais felicidade por aí, gente!

Fiquei curiosa a respeito do costume norte-americano de usar "something old, something new, something borrowed, something blue" (algo velho, algo novo, algo emprestado, algo azul) e descobri que o verso termina com a frase "and a silver sixpence in her shoe" (e um sixpense prateado no sapato dela). Como sixpense era uma moeda fabricada na Inglaterra de 1551 a 1967, sabe-se que a tradição surgiu nesse país, provavelmente na Era Vitoriana.

Cada um dos itens deveria ser usado pela noiva no dia do casamento, o que atrairia sorte. O "algo velho" representa a continuidade da família e a tradição. O "algo novo" significa otimismo e esperança para a nova vida. Já o objeto emprestado deve pertencer a um amigo ou familiar que tem um casamento feliz, para que transmita o sucesso de sua união ao novo casal. A cor azul do penúltimo item é associada ao casamento há séculos. Na Roma Antiga, as noivas usavam azul para expressar amor, modéstia e fidelidade. A própria religião católica veste a Virgem Maria de azul, para transmitir pureza. Na cultura brasileira, costuma-se usar algo azul para "cortar a inveja" das moças solteiras.
Por fim, o sixpense — a moeda no sapato — simboliza riqueza e segurança financeira.
O difícil é arranjar um modo de incluir todas essas coisas na roupa da noiva...

sexta-feira, março 16, 2007

Euforia

Quero casar logo! Mas sem RG não dá, por isso, lá vamos nós madrugar mais um sábado para ir ao Poupatempo fazer a minha 2ª via. Só eu mesmo para perder o RG meses antes do casamento... Pior é que vou ter de fazer outro depois que casar...

Falta 190 dias para o casório!!! Êêê! Não vejo a hora... de curtir a festa, de comer todas as comidinhas deliciosas, de usar o meu vestido, de jogar o buquê, de ser a excelentíssima esposa do meu noivinho!!! E, depois, de viajar para a Itália... ah, que maravilha!!!

Essa semana, o casal Makita conquistou mais uma vitória: o primeiro plano de saúde conjunto! Acho que já somos quase oficialmente uma família...

segunda-feira, março 12, 2007

Eu estou muito feliz.

É engraçado, estamos noivos há 6 meses e, há 15, sei que é com o Fernando que quero passar o resto da minha vida, mas parece que é só agora, faltando 6 meses para o casamento, que as fichas começam a cair... VAMOS MESMO NOS CASAR!!!

O apartamento está comprado e a maior parte dos serviços está contratada, mas, hoje, vendo o convite que o meu noivo (o melhor diagramador do mundo) fez, me dei conta de que, dentro de 6 meses, vou ter a minha própria família com o homem mais adorável que existe!
Estou ansiosíssima... Padrinhos e madrinhas, amigos e amigas, aguardem: em um par de meses vou estar maluca... mas completamente feliz!

P.S.: Gostaria de ressaltar publicamente os afazeres do noivo:

- Arranjar um apartamento – OK (Crédito: Sogrinha Marisa)
- Renovar o passaporte
- Fazer o convite - OK
- Arranjar o DJ – OK
- Comprar um terno
- Dar entrada no civil
- Levar as alianças para polir e gravar certo

Nós

Antes do post Ela que me foi cobrado, proponho a reflexão sobre Nós. Afinal é assim que pretendemos viver pelo menos o dobro de anos que já vivemos, juntos. Abaixo a imprensa especializada com sua preservação da individualidade. É claro que devemos permanecer sendo nós mesmos e essa babaquice toda que se apregoa por aí. Mas isso está se tornando tão importante que é por isso que estão acontecendo tantas separações. Os indivíduos estão insuportáveis aos casais.
Tudo isso por um par de óculos de um amigo estava conosco. Não comigo, com ela ou com ele, com quem o devido objeto deveria realmente estar.

Nós somos um casal muito divertido, gostamos de dar muita risada e provocar um ao outro, principalmente de manhã, quando um ou outro está de mau humor. Ou de rir juntos da mesma piada, mesmo sem que se conte.

Nós somos um casal motorizado, em que a co-piloto é tão boa quanto o piloto. Entendam isso como quiserem. Mas o importante é que nós chegamos, buscamos e levamos, voltamos e vamos pra um monte de lugares, da casa de amigos a viajens, baladas e restaurantes novos, ou até mesmo pra ir ali na esquina, desde que a trilha sonora seja do ipod dela, claro.

Nós somos um casal que freela lado a lado, literalmente. Mesmo que um não esteja, fica ali, vendo os emails, quietinho pra não atrapalhar. Senão, vai fazer o jantar. Por falar em jantar, nós somos um casal que aprecia a boa comida, seja ela um almoço no Alfama dos Marinheiros ou um buraco quente com mostarda dijon.

Nos somos um casal que quando não está revisando ou diagramando, está lendo. Não o que se produziu, claro. Mas quem sabe outras coisas para se produzir melhor. E mais ainda coisas que não acrescentam em nada, ou mais ainda. A noiva neurótica é uma padawan-nerd de quadrinhos e cinema, mas não admite.

Nós somos um casal feliz.

segunda-feira, fevereiro 26, 2007

Ele

Fernando é um nipo-ítalo-brasileiro muito alto e muito magro. É nipônico no amor pelos detalhes e na paixão por fotografias. Italiano no pavio curto e nas mãos enormes, de gestos infindáveis. Brasileiro no tanto que come.
Fernando – de olhar para ele, a gente logo vê – cresceu rápido demais e, por isso, sacode os braços ao longo do corpo como se não soubesse o que fazer com eles. Tampouco sabe como endireitar 1,90 m de altura, o que faz com que curve as últimas vértebras do pescoço, trazendo a cabeça mais para baixo.
Fernando usa All-Star de couro preto. Cano alto. Brincos na orelha e o cabelo bem desarrumado ­– não por desleixo, por capricho do cabelo, que está mais para o brasileiro que para o japonês. Ele tem uma mania irresistivelmente sedutora: ouve canções de rock clássico no último volume, em fones de ouvido, e toca uma guitarra imaginária como se ninguém pudesse ver. Fernando gosta de dançar. E é tanta alegria de não caber em toda a sua dimensão.
Fernando passa a maior parte do tempo visitando sites relacionados à tecnologia, carros e – claro – mulher pelada. Gosta de autorama, de cinema e de quadrinhos. E Fernando perde a paciência, às vezes, e bate na mesa e grita. Ele também não gosta de acordar cedo, nem quando eu mudo de idéia muitas vezes ou estou de TPM.
Mas Fernando faz um macarrão com atum como ninguém. E à bolonhesa. Faz também carne assada e moída. De manhã, faz carinhos nas costas e me acorda de bom-humor. Faz piadinhas, brincadeiras e imitações. Tem um colo magro e ossudo, mas muito confortável. E tem uns beijinhos muito bons...

quarta-feira, janeiro 31, 2007

A organizadora de casamentos

Carla, de corpo esguio e magro, é uma daquelas pessoas que não se sentem bem em sua pele. Em vez de se favorecer do biotipo, ela se confunde e se desengonça, perdendo-se entre pernas e braços tão compridos.
Os ohos fundos e os cabelos ralos em desalinho denunciam o desespero que essa organizadora de casamentos carrega. Conclui-se, logo: ela não dá para a coisa.
De tão confusa que é, escreve pequenas notas para não esquecer de que a noiva moderna é moderna, de que a tradicional é tradicional e de que a romântica é romântica e não quer lírios brancos. Com pequenos pedaços de durex, forra as paredes de sua sala, o fichário e a agenda, para "não cometer gafes", diz, "que são coisas muito feias de se cometer".
Ela fala baixo e pausadamente, quase como se as palavras se afastassem e compusessem frases lá na frente, quando todos já estão empacientes e entediados. A risada é um caso à parte. Ela ri em prestações, sem que ninguém espere e sem motivo aparente. Fala-se em flores e logo vem um rá... Menciona-se velas, outro rá... Um bem casado, mais um rá... Assusta.
Carla me dá um pouco de pena. Ela não dá para a coisa. Mas, pena mesmo eu tenho das noivas. As noivas - esses seres que só pensam em musseline, orçamentos, rosas colombianas, provas de vestido e bolos gigantescos - estão sempre à beira de um ataque de nervos. Elas têm pesadelos em que chegam atrasadas na igreja, em que não querem mais se casar, em que os noivos as abandonam. Vivem pilhadas, nervosas, ansiosas. Imagine, então, o que causam as gafes de Carla. Ela já perguntou para uma noiva flicto, dessas que casam ao som de Flaming Lips, quando entraria em contato com o coral. Propôs para outra a entrada de uma escola de samba em pleno casamento (fico imaginando a noiva de vestido longo, branco, e as mulatas semi-nuas sambando freneticamente ao lado). Carla se confunde com o cronograma, esquece-se dos contratos já fechados, atrasa-se para a reunião, atrapalha-se toda e pergunta a mesma coisa um milhão de vezes. Ela não dá para a coisa. E, quando vê que errou, sorri sem jeito e pede desculpas va-ga-ro-sa-men-te...