sexta-feira, dezembro 01, 2006

Dona Veridiana - A dona da casa do casamento

“Diga, meu pai, quem é mais rica, D. Veridiana ou a Light?” perguntava o pequeno Cândido da Motta Filho na inauguração da primeira linha de bondes elétricos, em 1900. Pois D. Veridiana não tinha carro com rodas de borracha? Não tinha um palacete no estilo do Renascimento francês? Ao domingos não franqueava seus jardins à vizinhança? Não fazia leilões das uvas produzidas em sua chácara para ajudar a Santa Casa?

Essa mulher tão poderosa que deixava o pequeno menino boquiaberto era Veridiana Valéria da Silva Prado (1825-1910), filha do Barão de Iguape, de quem já falei anteriormente Foi ele o primeiro grande centralizador da família, que não tinha raízes em bandeirantes ou mamelucos, arranjando casamentos entre parentes e famílias importantes, como os Monteiro de Barros, Pacheco Jordão, Silva Machado... Esse papel seria desempenhado depois por sua filha Veridiana, que promoveria a união de filhos e netos com famílias de expressão social e econômica. Ao falecer, o Barão deixava uma das maiores fortunas do estado, e uma herdeira que como ele manteria a unidade da família, sem deixar de ter destaque na vida social e promover a cultura.

Veridiana casou-se aos 13 anos com seu tio Martinho, meio-irmão de seu pai, quatorze anos mais velho que ela. Casada, segue o marido para o Engenho Campo Alto, em Mogi-Mirim, que graças ao empenho de Martinho logo se torna modelo na região. Ali, aos 15 anos, tem o primeiro filho, Antonio; em 1842, nasce Veridiana, morrendo seis semanas depois; dois anos depois nasce Martinho; em 1844 tem Ana Brandina (Chuchuta), nascida num rancho à beira da estrada de Mogi Mirim, pois não houve tempo de chegar a São Paulo. Em 1846, nasce a segunda filha com seu nome, mas que morre aos 18 meses. Já morando no sobrado da rua da Consolação (onde hoje está a Praça Roosevelt), tem os últimos filhos: Anésia (Nesita - 1850), Antonio Caio (1853) e Eduardo (1860).

Ao defender o casamento de sua filha Ana Brandina com o Conde Pereira Pinto entra em choque com o marido, de quem acaba por se separar, escandalizando a sociedade. Permanecem ambos na mesma casa, em alas separadas, até que ela construa o seu palacete onde viria a ser o bairro de Higienópolis. A “Villa Maria” (homenagem a uma afilhada) seria conhecida ainda por Chácara da D. Veridiana. O palacete ainda está de pé, apesar das reformas, escondido atrás de um imenso arvoredo na esquina da Avenida Higienópolis com rua Dona Veridiana; hoje é sede do São Paulo Clube.

O palacete, em estilo Renascimento, teve projeto e materiais vindos da Europa, estando a construção ao cargo de Luis Liberal Pinto. Em 1885 muda-se para a casa, que realmente destoava de tudo o que se via na cidade: inúmeros são os depoimentos daqueles que a visitavam, como a princesa Isabel, em novembro de 1884:

“A propriedade de D. Veridiana, lindíssima; casa à francesa, exterior e interior muitíssimo bonitos, de muito bom gosto.(...) Os jardins tem gramados dignos da Inglaterra, a casa domina tudo, há um lagozinho (sic), plantações de rosas e cravos, lindos. Vim de lá encantada”.

Além do relato embevecido da princesa, seu retrato e de seu pai no salão principal não deixavam dúvidas quanto ao prestígio e respeito existentes entre D. Veridiana e a Família Imperial. Em 1887, quando de sua última visita a São Paulo, D. Pedro II foi recepcionado no palacete. D. Veridiana dispôs seus netos em duas alas, para que jogassem pétalas de rosas sobre o imperador. Um deles, porém, juntou um bolo de pétalas e atingiu o rosto do monarca; um mal estar generalizou-se, piorando quando D. Pedro descobriu ser o peralta um dos filhos de Martinico Prado, combativo jornalista republicano.

O salão de D. Veridiana foi um dos mais importantes palcos de reuniões intelectuais da história paulista. Os cientistas Orville Derby e Loefgreen, os médicos Domingos José Nogueira Jaguaribe, Luis Pereira Barreto, Cesário Motta Junior e Diogo de Faria, além de Capistrano de Abreu, Ramalho Ortigão, Graça Aranha, Joaquim Nabuco. Eça de Queiroz encantou-se com a mãe do amigo Eduardo, e lamentou o fato de não ter privado mais de seu convívio.

Ao separar-se do marido e assumir o controle da família, ela escandaliza a sociedade, sendo mesmo alvo de ameaças através de cartas anônimas. Reza a crônica familiar que foi ela também a primeira mulher da elite a sair sozinha para as compras, acompanhada apenas do cocheiro. Foi também uma das animadoras da introdução de novas espécies de uva, como a Niágara, cultivadas em sua chácara por Francisco Marengo, que depois deixaria seu nome ligado à história do Tatuapé.

Dentre tantas histórias sobre essa grande dama paulista, uma merece registro: foi quando esteve em Paris, no apartamento de seu filho Eduardo, em plena Rue de Rivoli. Depois de percorrer todos os aposentos daquele que seria um dos mais importantes pontos de encontro da sociedade de fins do século XIX, ela deve ter escandalizado o circunspecto mordomo ao dizer estas palavras: “Está tudo muito bom, muito bonito. Só é pena não ter um galinheiro”. Lembre-se de que estamos falando da mulher mais rica da cidade de então.

Discreta, vestia-se com roupas escuras e não aceitava o tratamento de Madame, tão em voga na época. Inovou em seu testamento, provendo generosamente mulheres da família ou agregadas, contanto que usassem o dinheiro em proveito próprio, sem deixá-lo nas mãos dos maridos. Isso a torna uma das primeiras feministas da nossa história. Ainda deixou um pedido de desculpas a todos aqueles que possa ter ofendido ou escandalizado, e o pedido de um enterro de segunda classe. Foi sepultada no Cemitério da Consolação.

Quanta diferença de hoje, quando ainda discutem se Lady Di ao morrer estava grávida do playboy saudita...

Fonte: Dona Veridiana, de Luis Felipe D´Ávila. Editora Girafa.

3 comentários:

Ricardo disse...

Faltou copiar o nome do autor do texto, o blog de origem e a foto de Dona Veridiana...

Anônimo disse...

Além de aprender os fundamentos do jornalismo (não copiar texto dos outros, por exemplo), falta também dar um tapinha no português, que não está lá essas coisas.

Está faltando muuuuuuita coisa pra aspirar a ser jornalista, viu?

Anônimo disse...

texto hein?